O café continua entre os produtos que mais pressionam o orçamento das famílias brasileiras. De acordo com o IBGE, o café moído foi o segundo item com maior impacto na prévia da inflação de junho (IPCA-15), com alta de 2,86% no mês. No acumulado de 12 meses, o preço disparou 81,6%.
Apesar disso, o cenário no campo já começou a mudar. Desde março, quando teve início a colheita da nova safra, o preço médio do café arábica caiu 17% em relação a fevereiro — mês em que atingiu o maior valor da série histórica do Cepea/Esalq, iniciada em 1996.
A expectativa de maior oferta no segundo semestre, somada ao avanço da colheita, tende a puxar os preços para baixo. Porém, esse movimento só deve chegar de forma mais perceptível aos supermercados entre 60 e 90 dias, segundo estimativas do setor.
“Há um intervalo entre colher, beneficiar, torrar, embalar e distribuir o café. Esse processo todo atrasa o repasse ao consumidor”, explica Fernando Maximiliano, analista da consultoria StoneX Brasil.
Além do ritmo natural da cadeia de produção, outros fatores ajudam a explicar a resistência dos preços no varejo. A colheita atual deve crescer apenas 2,7% em relação à safra passada, segundo a Conab. No caso do arábica, houve perda por conta da seca, com previsão de queda de 6,6%. Já o café robusta, cultivado principalmente em áreas irrigadas do Espírito Santo e da Bahia, deve crescer 28%.
Outro motivo para o alívio ainda não ser sentido nas prateleiras é o consumo menor do produto no Brasil. O próprio aumento de preços afastou parte dos consumidores, o que contribuiu para reduzir a pressão da demanda interna.
A disparada no início do ano foi agravada por exportações maiores que o normal. Em 2024, o Brasil embarcou mais de 50 milhões de sacas, mesmo com uma produção limitada. Isso esvaziou os estoques nacionais e impulsionou os preços.
A demanda internacional cresceu por fatores externos: problemas na produção do Vietnã, tensões geopolíticas no Oriente Médio e o risco de barreiras comerciais da União Europeia contra produtos de áreas desmatadas — regra que foi adiada para o fim de 2025, mas já influenciou as importações.
Para os especialistas, a queda de preços ao consumidor deve começar de forma lenta ainda este ano, mas só será mais visível em 2026, caso não ocorram imprevistos climáticos ou logísticos.