A cidade de João Dias, no interior do Rio Grande do Norte, foi alvo de uma disputa de poder entre políticos locais e o crime organizado. A investigação da Polícia Civil e da Polícia Federal revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) interferiu nas eleições municipais e está por trás do assassinato do ex-prefeito Francisco Damião de Oliveira, conhecido como Marcelo.
Com pouco mais de 2 mil habitantes e receita de R$ 23 milhões em 2023, segundo o IBGE, o município se tornou alvo da facção, que tentou tomar o controle da gestão para ter acesso a recursos públicos.
Renúncia comprada e nova gestão da facção
Um áudio revela que o traficante Francisco Deusamor Jácome ofereceu R$ 730 mil para que Marcelo renunciasse ao cargo. O acordo foi fechado, e ele deixou a prefeitura em junho de 2021. Sua vice, Damária Jácome — irmã de Deusamor — assumiu o posto. Na posse, ela homenageou seus irmãos, incluindo dois ligados ao tráfico.
Assassinato planejado
Após retornar ao cargo por decisão judicial em 2022, Marcelo passou a colaborar com a Justiça e denunciar o envolvimento da família Jácome com o PCC. Ele pretendia disputar a eleição de 2024 contra Damária.
Em agosto de 2023, Marcelo e seu pai foram mortos a tiros dentro de uma barbearia. Segundo a investigação, Damária e a vereadora Leidiane Jácome contrataram os assassinos. Os criminosos ficaram escondidos por 10 dias em um sítio da família, onde gravaram vídeos armados e com símbolos do PCC.
Prisões e foragidos
Nove pessoas foram presas. Damária e Leidiane estão foragidas. A prefeitura é comandada hoje por Maria de Fátima Mesquita da Silva, viúva de Marcelo. Em nota, a prefeitura afirmou que o município vive um momento de “profunda intranquilidade”.
A defesa das irmãs nega envolvimento e diz que elas fugiram após receber ameaças.
Crime organizado nas eleições
Segundo a PF, o PCC interferiu em pelo menos 42 cidades nas últimas eleições. Só em São Paulo, a facção teria investido cerca de R$ 8 bilhões em candidaturas. O caso de João Dias revela como o crime organizado vem infiltrando a política local para lavar dinheiro e controlar instituições públicas.